terça-feira, 31 de março de 2009

Fraudes e crimes


Camargo Correa, Opportunity e Daslu são três nomes que andam presentes no noticiário por força de ações policiais. São três grandes empresas que movimentam, juntas, alguns milhões de reais. Ou de dólares, porque todas têm grandes negócios internacionais. No caso da Daslu, na importação de marcas famosas de produtos de luxo, objetos do desejo entre os ricos do país. Samuel Wainer, em Razão de Viver, seu livro de memórias, escreveu que, para se contar a história política do Brasil no século XX, ter-se-ia de ir atrás das empreiteiras. E os bancos de investimento, com seus enormes fundos, são a locomotiva da moderna produção capitalista.

O comportamento dessas empresas revela casos isolados de desvios de conduta ou reflete um padrão seguido por muitas outras que não foram investigadas e descobertas? Fica sempre uma suspeita sobre a ética empresarial, com tantos e sucessivos escândalos, no Brasil e também em outros países civilizados. Nestes últimos, destacam-se os casos da Enrow, WorldCom/MCI, Parmalat, Madoff, entre dezenas de outras fraudes e crimes financeiros.

E me vem à memória, mais uma vez, o desapontamento da esposa de um empresário brasileiro com as novelas da TV, que têm mania de criar personagens de pouca honestidade na pele de empresários.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Fast Food


Uma indústria que começou há 30 anos no Sul da California produzindo cachorro-quente e hamburger penetrou fundo na sociedade americana. Hoje, representa um negócio de 120 bilhões de dólares, mais do que os americanos investem em educação, computadores e carros novos. A partir desta informação, Eric Schlosser escreveu um livro e, baseado nele, Richard Linklater fez um filme-denúncia que revela com brutal sinceridade o que está por trás do negócio do fast food: produtos contaminados, exploração de trabalhadores mexicanos ilegais e criminosa irresponsabilidade dos altos executivos que dirigem as grandes marcas desses produtos.

O título do filme é Fast Food Nation e no Brasil ganhou o subtítulo Rede de Corrupção.

O roteiro é da autoria de ambos – Schlosser e Linklater – e o livro foi escrito a partir das reportagens investigativas escritas pelo primeiro no jornal Rolling Stones. Virou best-seller e correu o mundo transformado em filme. As denúncias são graves mas a indústria do fast food, que virou sinônimo da pobre gastronomia da classe média americana, continua faturando alto.

Quem quiser ler uma amostra do livro, em inglês, basta seguir este link: http://tinyurl.com/cwwr9u.

E mais detalhes sobre o filme no IMDB.

sábado, 28 de março de 2009

Risoto de bacalhau


Ingredientes
300 grs de arroz arbório
400 grs de bacalhau demolhado
4 colheres de sopa de manteiga
2 colheres de sopa de azeite
1/2 unidades de cebola ralada
1 folha de louro
1 copo de vinho branco seco
1 litro de caldo de peixe
3 unidades de tomate sem peles e sem sementes
50 grs de queijo ralado
quanto baste de salsinha picada
quanto baste de sal

Modo de preparo

Com um pouco de azeite, refogue o bacalhau, os tomates picados e reserve.
Aqueça metade da manteiga e o restante do azeite.
Refogue a cebola levemente.
Adicione a folha de louro.
Acrescente o arroz e refogue levemente.
Junte o vinho branco e deixe reduzir.
Vá acrescentando o caldo de peixe aos poucos e mexendo sempre.
Adicione o bacalhau refogado com o tomate.
Corrija o sal. Retire a folha de louro.
Desligue o fogo e junte o restante da manteiga e o queijo ralado. Mexa bem e sirva na hora

sexta-feira, 27 de março de 2009

Teus fantasmas


Eles acompanham tuas horas e estão a teu lado todo o tempo. Estão próximos da ventania e têm odor de chuva ou do próprio sopro que vem junto ao orvalho na madrugada. Não te surpreendem porque não têm medo da escuridão e dos raios nem das armadilhas que a existência expõe pelas estradas.

Cegos diante da claridade do sol, olhos abertos noite adentro, viajam pelos sonhos e pelas correntes do pensamento, nos tropeços que revelam a inconsciente percepção de um enigma que permanece indecifrado. Viajam através das vagas na travessia de um deserto branco, silencioso e diferente dos objetos que enfeitam as paisagens ocultas.

Sabem tantos discursos e no entanto permanecem mudos, sombras tardias dos viventes de mundos paralelos. Mistérios.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Taxis


Paris é a cidade com o pior serviço de taxis que conheço. Para conseguir um, é preciso procurar o ponto fixo em algum lugar onde ninguém sabe onde fica e esperar. E é muito raro o motorista saber onde está a rua para onde você precisa ir. Tem de consultar o guia. Pelo que me disseram, o problema vem da existência de um cartel que impede novas licenças e porisso faltam taxis na cidade.

Em Londres, os taxis são confortáveis e os motoristas educados. Em Nova Iorque, os yellow cabs estão sempre ocupados e os seus condutores são geralmente destuidos de humor. Mas em Vitória, no Espírito Santo, eles são os mais desonestos, piores até do que os argentinos, vigaristas eméritos com extrema destreza, capazes de transformar uma nota de 50 pesos numa de cinco e ainda lhe dizer que falta completar a corrida que custou sete. Em Recife, se você for homem viajando sózinho e entra num taxi no aeroporto, o motorista vai querer logo lhe vender um programa com alguma prostituta que ele conhece e recomenda.

Dos que conheço por experiência, prefiro o serviço de taxis do Rio de Janeiro. A desorganização eterna da cidade distribuiu licenças sem critério e você não espera sequer um minuto para que um deles cruze a rua, numa diagonal que ameaça todo o trânsito, e pare na sua frente.

Já os motoristas cariocas, bem... essa é uma outra história.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Gran Torino


Com precisão e talento, ele já abordou quase todos os gêneros clássicos do cinema americano. Recriou o western, mergulhou nos conflitos das tramas policiais, dos romances de amor e dos dramas da guerra. Em todos os filmes que dirigiu, não deixou de lançar um olhar solidário sobre herois desiludidos, vivendo crise pessoal mas capazes de enfrentar, em situações extremas, as contradições e hostilidades do mundo que os confronta.

Seus mestres foram Sergio Leone e Don Siegel. Deles absorveu o cuidado com os detalhes da produção de um filme e um estilo capaz de agradar a todos e ao mesmo tempo surpreender o espectador, pela maneira criativa de narrar uma história.

Agora, aos 79 anos, Clint Eastwood nos traz uma dramática crônica sobre a velhice, a solidão e a dificuldade de aceitar o desaparecimento das referências pessoais num mundo em transição.

Gran Torino é um belo filme sobre a velhice e a redenção e sobre os valores capazes de justificar uma vida.

terça-feira, 24 de março de 2009

A nossa guerra


Dois helicópteros sobrevoam Copacabana e lembram uma cena do Apocalipse de Francis Coppola. Um é da polícia, outro me parece estar a serviço da cobertura jornalística da TV Globo. Carros da PM passam velozes pela Barata Ribeiro com as sirenes ligadas. Na esquina da Siqueira Campos, quatro soldados tensos abordam um motociclista com pistolas apontadas e prontas para atirar. Levantam sua camisa, mandam-lhe retirar o capacete, pedem os documentos da moto. Negro e pobre, pálido de medo, poderia ser um bandido. Ou não, apenas um motociclista a caminho do trabalho.

Desde sábado ouvem-se tiros disparados na favela da Ladeira dos Tabajaras. Rajadas, estampidos soltos que ecoam na madrugada. Experimento em Copacabana a mesma sensação dos habitantes de Beirute, durante a guerra civil, e de Bagdá sublevada.

Esta no entanto é a nossa guerra, que nos habituamos a ver na televisão e que a cada dia que passa chega mais perto de nós. A cada investida de um bando sobre outro, a cada intervenção da polícia, diante dos mortos e do medo das pessoas, nos perguntamos se esta guerra um dia terá fim. Penso que não, pelo menos enquanto as drogas, esta mercadoria valiosa e maldita, estiver sendo comercializada pelas associações criminosas criadas e nutridas nos guetos miseráveis da cidade.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Marketing viral


As empresas estão deixando de gastar um bom dinheiro com a promoção dos seus produtos, usando o que se convencionou chamar de maketing viral. Basta produzir um comercial diferente, com cenas surpreendentes e enviá-lo para o Youtube e outros portais de vídeo. Os usuários da internet se encarregam de distribuí-lo, passando uns para os outros como se fosse um vírus.

O povo da internet ama os comerciais do Youtube, a ponto de enviá-los aos amigos, pelo simples fato de serem diferentes e mais criativos. Esta predileção traz prejuizos para a televisão comercial. Basta ver alguns anúncios de shampoo como estes aqui, veiculados de graça, com quase nenhum investimento dos fabricantes.

A Procter&Gamble, gigante americana de cosméticos e produtos de limpeza, há pouco lançou uma nova linha sem gastar um tostão. Um de seus executivos disse que, na TV, a campanha custaria algo em torno de cinco milhões de dólares.

sábado, 21 de março de 2009

Galinha ao molho pardo


Fim-de-semana, vamos novamente à cozinha. Hoje, trago a receita de uma galinha ou frango ao molho pardo, prato que relembra a condição carnívora da nossa espécie, grande apreciadora de pratos elaborados com sangue.

Eu poderia começar esta receita dizendo “mate uma galinha”, mas penso que os espíritos mais sensíveis devem encomendar a tarefa a quem não seja tão piedoso e pedir para colher o sangue, misturando-o a vinagre para não talhar. Reserve.

Corte a galinha aos pedaços.Tempere.

Frite os pedaços numa panela que você abandonará em seguida, mas transferindo um pouco da gordura para outra panela onde vai jogar, com ela já em fogo brando: tomate cortadinho, cebola picadinha, cheiros verdes, muito coentro, meio pimentão, pimenta ao gosto. Se quiser, ponha também uma lata de pomarolla. Um pouco de vinho tinto cairá bem. Deixe cozinhar uns 20 minutos. Quase na hora de servir, jogue por cima o sangue com vinagre e deixe ferver mais alguns minutos.

Sirva bem quente. Aproveite.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Gordos


Numa época em que se cultivam os magros, os gordos sentem-se excluídos. Ao contrário dos séculos passados, quando homens e mulheres exibiam corpos redondos e pesados e os magros, suspeitos de tísica, eram olhados com desconfiança.

Hoje, é difícil para os gordos encontrar o tamanho certo de roupa porque são raros os três X nas gôndolas das lojas, enquanto proliferam os talhes médio e pequeno, como se o mundo fosse habitado por adolescentes desnutridos.

As cadeiras são geralmente muito pequenas e se transformam em aparelhos de tortura nas longas viagens de avião, quando os cintos de segurança mostram que também foram imaginados para passageiros abaixo de um peso decente. E as companhias aéreas, ao mesmo tempo em que diminuíram o espaço entre as filas, aumentaram o número de cadeiras. As diminutas refeições atualmente servidas a bordo denunciam a conspiração destinada a manter os passageiros em condição de extrema magreza, de modo a que possam caber nas poltronas e nos banheiros das aeronaves.

Estas são injustiças menores, quando confrontadas com as que são cometidas pelos exames de sangue. As taxas indicadoras de perigo teimam em permanecer altas e os médicos, antes mesmo de examinar um gordo, dizem que ele precisa perder algum peso.

Todas estas são reflexões sombrias que povoam meus pensamentos enquanto me preparo emocionalmente para, mais uma vez, entrar numa dieta cruel e desumana.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Opinião Pública


Ela é temida e bajulada pelos poderosos. Governos, instituições, países, todos se rendem à sua força e a cortejam. Empresas foram criadas para tentar manejá-la, outras tantas para acompanhar os seus humores e oscilações e assim se formaram os grandes grupos mundiais de comunicação.

Poucos entenderam quando ela representa os consumidores ou os cidadãos, pois são as mesmas pessoas em momentos diferentes de estímulo emocional. Procuraram identificar aqueles que os institutos de pesquisas americanos chamaram de opinion leaders, ou opinion makers, aqueles que, gozando de grande credibilidade, influenciariam os outros, criando correntes favoráveis ou desfavoráveis a alguma coisa, idéia, produto, partido ou pessoa.

Ela é a opinião pública, estudada desde Platão mas que continua complexa e difícil de influenciar ou conduzir. Muitos pensam que a Mídia a constrói, mas a História conta como muitas campanhas orquestradas para conduzir a opinião pública foram tentativas vãs que obtiveram resultado contrário ao desejado.

Ela antecipa as grandes mudanças que ainda vão ocorrer numa sociedade ou mesmo em uma nação. Para que algo aconteça, é necessário que ela aprove e por isso é tão estudada, perquirida, acompanhada de perto.

Os políticos mais poderosos são sempre aqueles que desenvolveram a intuição de perceber suas tendências e aprenderam a com ela dialogar.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Como fazer um filme ruim


Junte um elenco de atores famosos como Juliette Binoche, John Torturro e Nick Nolte; escreva uma história sem pé nem cabeça mas que tenha conexões com a realidade, como o ataque às Torres Gêmeas; misture com espionagem, incesto e subliteratura e aí você fará um filme como Quelques jours en septembre, no Brasil Segredos de Estado, uma produção francesa dirigida pelo argentino Santiago Amigorena. Foi talvez o pior filme produzido no ano de 2006, quando estreou.

O assassino psicopata da CIA vivido por Torturro recita poemas de Homero enquanto degola suas vítimas. Binoche não sabe o que fazer e passa o tempo olhando de um lado para o outro exibindo expressões que nada têm a ver com a cena que representa. Seu olhar, que é miope, põe a câmera fora de foco durante grande parte das sequências, num recurso primário que o diretor argentino deve ter julgado de grande criatividade. Dois jovens irmãos, interpretados por Sarah Forestier e Tom Riley, atores perdidos em seus personagens indefinidos, brindam a platéia com um incesto sem culpa. Nick Nolte, numa ponta, salva-se do desastre geral.

É um filme pretensioso, lento, confuso, um emaranhado de citações gratuitas. Santiago Amigorena escreveu o roteiro e, não contente com o resultado medíocre, dirigiu o filme.

terça-feira, 17 de março de 2009

Ladrões


Três ventanistas em plena atividade foram presos esta semana. Um em Santa Tereza, outro no Leblon e um terceiro em Piratininga. Depois de escalarem a parede, entraram pela janela para furtar. O de Piratininga, cansado, resolveu se estender um pouco e foi encontrado dormindo no sofá. A seu lado, o que havia reunido para roubar: um televisor, um aparelho de DVD, uma bicicleta, algumas roupas e um cortador de grama.

Esse tipo de ladrão que entra pela janela – ventana – está ficando fora de moda, pois a facilidade de ter uma arma e a violência implantada na cultura das grandes cidades institucionalizou o assalto brutal e homicida. É mais fácil, dá menos trabalho tomar a bolsa das mulheres no sinal de trânsito, armado com um revólver, do que escalar uma parede.

Não existem mais nem os ladrões pobres que roubavam galinhas, nem os artistas batedores de carteira que investiam tempo em treinar os dedos para que ficassem sensíveis, leves e ligeiros.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Melhor idade


Os mecanismos de marketing, que andam sempre na busca de novos segmentos de consumo, inventaram a tola expressão melhor idade. Nos países ricos, pesquisas passaram a medir o poder de compra dos velhos para incorporá-los ao mercado, desenvolver produtos adequados a suas necessidades e explorar seu potencial de consumo. No Brasil, o governo criou empréstimos dedutíveis da folha de pagamento dos aposentados e muitos estão hoje atolados em dívidas que não podem pagar.

Descortina-se um projeto de logro e exploração. A criação de slogans publicitários tem o objetivo de levar os velhos a acreditarem que se encontram mesmo na melhor idade e, por isso, devem comprar mais e usar seu pouco dinheiro para adquirir mercadorias de valor conspícuo.

Glamurizar a velhice, tentar convencer os velhos de que eles se encontram na melhor idade é uma mistificação cruel.

sábado, 14 de março de 2009

Feijão tropeiro


Sábado. Vamos para a cozinha e a sugestão de hoje é feijão tropeiro, prato que fazia o prazer dos antigos condutores de tropas de burro nas duras viagens pelo interior das Gerais.

Cozinhe o feijão e reserve. Não deixe cozinhar demais. Quase na hora de servir, coloque numa panela: pedaços de toucinho, defumado ou não, frite os torresmos e reserve. Na mesma panela, frite pedaços de linguica. Acrescente 2 ou 3 ovos inteiros, bastante cebola, pimenta do reino, sal com alho e refogue o feijão - sem o caldo.

Deixe ferver um pouco para tomar gosto.

Prove. Se necessário, retempere.

Quase na hora de servir, adicione ao feijão um pouco de farinha de mandioca, aos poucos, para não ficar muito seco. Vá sacudindo a panela, para misturar bem. Por ultimo, junto os torresmos que já estarão fritos e sirva bem quente, acompanhado de arroz branco e couve picadinha e refogada.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Os melhores meses do ano


Uma cidade que vive para o verão mas que tem nos meses de maio e de setembro os seus mais belos dias. Metrópole construida nos trópicos, ampliada sobre aterros e terras roubadas ao mar, o Rio sofre com inundações, deslizamentos e o forte calor que faz de novembro até abril. Só em maio a temperatura ganha graus civilizados, amenizada pela brisa fresca, pelo céu azul e pelas marés claras e tranquilas.

Em setembro, novas ondas de claridade e brisa lembram que é primavera, apesar de as mudanças sazonais não serem tão marcadas em nosso hemisfério. Uma velha senhora, nascida na Alemanha, me disse que no Brasil não se tinha a noção verdadeira da passagem do tempo, porque não se notava a troca das estações. Ela tinha envelhecido e não percebera.

A cidade se despede do verão em maio e espera por ele em setembro, pois é no verão que vive e se agita, regurgita e recebe seus visitantes. Mas ela se mostra melhor na despedida e antes do reencontro com a estação que mais ama.

Penso em maio e em setembro, nesses dias de sofrimento com as selvagens temperaturas das últimas semanas.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Religiões


O momento de maior esplendor da Igreja em seus 2009 anos de história foi durante os séculos da Idade Média. Ela nomeava os reis, o Papa dispunha de exércitos e os povos da Terra submetiam-se a seu poder, movidos pela fé e pelo medo da excomunhão e do inferno. A Igreja queimava bruxas e hereges e quem mais desafiasse seus dogmas e seu poder. Não incorporou até hoje sequer uma prática democrática e sua organização é rigorosamente a mesma dos tempos medievais. O Sumo Pontífice reina em nome de Deus, como os reis reinavam por direito divino. E seu organograma é cheio de príncipes, condes e viscondes com os títulos de cardeais, arcebispos e bispos.

A separação da Igreja dos Estados modernos foi uma conquista que diminuiu o seu poder político e a liberdade de cultos reduziu a influência de uma única religião. Mas os novos cultos evangélicos, inspirados numa interpretação tendenciosa dos textos da Bíblia, são vetores de exploração dos humildes e do enriquecimento ilícito dos seus pastores. Em nosso país, avançam sobre a mídia e estão a se dar bem na política.

O sonho de todas as religiões é o poder político, no modelo de países como o Irã, o Afeganistão dos mujahidin e as outras repúblicas ou monarquias islâmicas.

As religiões amam o atraso.

terça-feira, 10 de março de 2009

É a guerra


Ontem, prometi falar de bebidas pesadas, mas hoje resolvi falar de refrigerantes e da guerra que travam entre si, no mercado americano, duas marcas de sabor cítrico. Uma, chamada Mountain Dew, pertence à Pepsi e a outra, com o nome de Vault, à Coca Cola. Mountain Dew tem 80% do segmento do sabor cítrico e Vault apenas 4% e porisso a Coca resolveu partir para o confronto: de agora até julho, quem comprar o refrigerante da Pepsi ganha um cupom que vale, gratuitamente, uma garrafa da marca da Coca Cola.

A Coca Cola, acostumada a liderar o mercado, não se conforma em levar uma goleada da sua arqui-rival e garante que a situação vai mudar quando os consumidores americanos, pressionados pela crise, provarem da sua marca sem precisar pagar nem um centavo. Frank Cooper, um executivo da Pepsi, diz que sua empresa está tranquila, pois quando o consumidor provar Vault, vai notar que Mountain Dew é melhor.

A Pepsi toma um gole da própria receita, pois foi ela que, nos anos 80, lançou uma campanha com o tema O desafio Pepsi, que promovia nas ruas testes de sabor comparando o seu com o da Coca Cola e dizia que, em todos os testes, saía ganhando.

Agora, é esperar para ver. Esse tipo de promoção, muito agressiva e direta, não é permitido no Brasil, porque cita sem subterfúgios o nome do concorrente. Somos um povo que se julga muito cordial, incapaz de falar mal dos outros.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Vinho, cerveja, uísque, cachaça


O amigo Marcus Ulysses reclama do Blog, que não tem mulheres e bebidas. Ele tem razão, pois o hedonismo não inventou nada melhor do que o slogan Sex, drugs and rock-and-roll. Como poderia responder-lhe? Mulheres? O que diriam a dele e a minha? Rock-and-roll? Não dispomos mais de preparo físico para dançá-lo, embora ele, bem mais jóvem, até que poderia fazer sucesso numa pista de dança.

Restam as bebidas. La liberté par l’ivresse. Vou dedicar algum tempo a refletir sobre a bebida, o que ela tem representado para a humanidade desde o dia em que Noé, bêbado de vinho, violentou as filhas. Noé não mereceu a bebida que bebeu e o vinho da sua época certamente era de má qualidade. Pior, talvez, do que o vinho que alguns comerciantes franceses de pouco escrúpulo nos mandam com o rótulo de Bordeaux.

É provável que eu venha a falar de vinhos, de cerveja, de uísque e de cachaça, duas bebidas fermentadas, duas destiladas, todas elas capazes de representar esta núvem de escapismo que os homens descobriram para olhar para o mundo e serem capazes de entendê-lo.

sábado, 7 de março de 2009

Fritada de siri que não leva siri

Fim de semana, vamos para a cozinha. É bom aproveitar o sábado, pois o calor melhorou. Muito pouco, mas melhorou: 29graus em Copacabana. A receita é de uma fritada de siri em que o siri foi substituído por repolho e coco ralado. E o resultado é muito bom.

Ingredientes
.1 repolho de 1 kg
.10 ovos
.1 colher de sopa de manteiga
.1/4 de xícara de azeite .
.1 coco médio ralado
.2 cebolas grandes batidinhas
.3 dentes de alho socados
.3 tomates picadinhos sem peles e sementes
.2 pimentões vermelhos picadinhos
.4 colheres de sopa de coentro picadinho
.4 colheres de sopa de queijo ralado
.Sal
.Pimenta do reino
.Azeitonas verdes para enfeitar

Modo de fazer

1a. Etapa - Desfolhe o repolho, retire os talos duros e corte bem fininho. Afervente e escorra bem. Ponha em uma tábua e bata com faca até que fique inteiramente desfeito.

2a. Etapa - Doure no azeite e na manteiga todos os temperos. Junte o repolho, refogue bem, acrescente os cheiros verdes e torne a refogar. Adicione o coco ralado e duas colheres de queijo parmesão ralado. Misture bem, tempere a gosto. Cubra com os ovos temperados com um pouco de sal. Polvilhe com queijo e enfeite com rodelas de tomate e azeitonas inteiras. Asse em forno quente. Pode ser servido, também, como acompanhamento de peixes e carnes.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Mutações


Cada época da história humana tem seu jeito de ser. Com seus costumes próprios, sua moral, a moda do momento, a mentalidade vigente. Vai se alterando a forma de pensar, de olhar o outro, e o próprio comportamento individual sofre grandes mudanças. Quem nasceu em 1900 viveu num outro mundo quando atingiu a maturidade nos anos 50. Passou a infância com bondes puxados a burro e, adulto, viajava em aviões e se locomovia em rápidos automóveis.

Muda também a forma de pensar e a maneira de conviver. Quanta diferença entre como pensava, no Ocidente, o homem medieval e como pensa hoje quem vive no nosso século. Frisei no Ocidente porque a humanidade não evolui de forma homogênea e existem, ainda hoje, sociedades que se encontram em plena Idade Média, a exemplo de alguns países árabes. Outras que ainda não sairam da pré-história, como é o caso de algumas tribos indígenas insuladas.

Penso que essas contradições não significam que as pessoas sejam mais ou menos infelizes, em cada um dos estágios da evolução social. Mas a diferença da mentalidade vigente em cada época é muito grande. As características do pensamento moral de cada século provavelmente levaria em direção à loucura um homem do século XIX que, de súbito, se visse em pleno século XXI.

quarta-feira, 4 de março de 2009

A invenção de Orfeu


Há muitos anos, há distantes, longos anos, o poeta Luiz Carlos Guimarães me emprestou Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima, uma obra-prima que era então lançada em sua primeira edição. Trata-se de um raro momento da grande poesia em língua portuguesa e nós éramos dois adolescentes embriagados de poesia na pequena cidade onde vivíamos. Um dia Luiz Carlos voltou para sua terra e esqueceu o livro em minhas mãos. Foi ser juiz de direito no Rio Grande do Norte e escrever sua própria e bela poesia.

A Invenção de Orfeu, com seus sonetos que chegam muito perto da perfeição, acompanhou-me pela vida afora. Não foi perdido durante as mudanças enfrentadas, não se misturou com as coisas que se ganha e que se perde na vida.

Tornamos a nos encontrar, Luiz Carlos e eu, já maduros, ele já aposentado da profissão de juiz, sem sabermos que estávamos próximos da sua morte. Ele não quis o livro de volta e escreveu na página de rosto a dedicatória tardia – “para Celso, cinquenta anos depois”.

terça-feira, 3 de março de 2009

Calor do verão


É o principal assunto a iniciar as conversas, esta semana no Rio de Janeiro. Antes mesmo da saudação, do bom-dia ou, mais ainda, do boa-tarde, vem a exclamação “que calor!” A cara das pessoas na rua não deixa lugar para a dúvida. Está fazendo mesmo muito calor, a temperatura não baixou dos trinta graus nos últimos dias e tem andado na direção dos 40, a marca tradicional da cidade no seu típico verão.

Os serviços de meteorologia informam que uma massa tropical estacionada sobre a região Sudeste impede a entrada das frentes frias e o carioca se sente em dúvidas. Gostaria que chovesse como no Sul do país, onde as tempestades realizam grandes estragos, ou continuar sob esta canícula senegalesca? Talvez seja melhor deixar como está, pois afinal de contas está dando praia.

A previsão dos próximos dias é de mais calor, embora não se possa confiar muito, pois o hemisfério Sul é traiçoeiro e as condições climáticas mudam sem aviso prévio. Pode ser que chova, mas é bom lembrar da força avassaladora das águas de março fechando o verão.

domingo, 1 de março de 2009

O medo


O medo transformado em terror virou um gênero do cinema e alimenta os fantasmas existentes no inconsciente das crianças e dos adolescentes. Mas antes do cinema a literatura do medo e do susto fez sucesso a partir do século XIX. Frankestein ou o moderno Prometeu, de Mary Shelley, é de 1816; Dr. Jeckyll e Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson, é de 1885 e Drácula, de Bram Stocker, é de 1897. Esses três livros, juntos, já renderam mais de 200 filmes.

Antes mesmo de virar tema na literatura e no cinema, o medo sempre existiu no coração dos homens. Lendas antigas, desde a Odisséia com seus monstros horríveis ameaçando os marinheiros de Ulisses, já revelam a expressão do terror. Os demônios estiveram sempre presentes na lendas medievais. Mitos sombrios como a alma que vem reclamar o sepultamento dos seus ossos, o homem lobo, a presença da Morte com a sua impiedosa foice, o inferno usado pela Igreja para amedrontar e submeter os seus rebanhos.

Os políticos fazem uso do medo para construírem as bases do seu poder, como nos mostra o documentário O Poder dos Pesadelos, produzido pela BBC. Veja aqui a primeira parte.

O medo nos cerca e nos oprime. No passado, ele se originava nas ameaças da natureza mas hoje são os homens que aterrorizam os outros homens. Em muitas cidades do mundo, as pessoas têm medo das crianças que encontram na rua.