segunda-feira, 28 de junho de 2010

Nordestinos


Vieram amontoados em caminhões para ganhar um salário miserável na construção de edifícios. A indústria imobiliária não é indústria, mas um artesanato de tijolos e argamassa de cimento e pedras. Eles vieram para fazerem com suas mãos a Avenida Paulista, os prédios monumentais de Brasília e as ofertas do marketing imobiliário de Copacabana, Leblon, Ipanema, Barra da Tijuca.

Foram importados como matéria-prima de baixo preço e alojados em moradia degradante. Fizeram crescer as favelas do Rio porque os incorporadores preferiam que ficassem próximos das obras, pois assim poderiam pagar menos pelo seu trabalho. Discriminados como minoria, são alvo de movimentos neonazistas em São Paulo.

Um deles chegou a presidente da república, outros voltaram para sua pátria, onde morrem afogados por enorme volume de água, depois de tantos anos de seca.

sábado, 19 de junho de 2010

Cristo fulminado


Na segunda-feira passada, a estátua de Jesus construida em Cincinatti, Ohio, por uma igreja evangélica chamada Solid Rock Church, foi destruida por um raio. O amigo Marcelo, que enviou a notícia, diz que foi um aviso. A sinceridade dessas igrejas que aparecem de repente como se fossem lojas comerciais está sempre sob suspeita, e não se deve nunca duvidar de certos sinais do sobrenatural.

O monumento, batizado como Rei dos Reis, na porta da igreja, tinha 20 metros de altura por 12 de largura. Os fiéis terão de multiplicar o valor do dízimo para pagar o prejuizo, calculado pelo pastor em 1,4 milhão de dólares.

Aqui em Copacabana, a Igreja da Multiforme Sabedoria de Deus, instalada ao lado do Bar e Café União, também anda no prejuizo. Enquanto o botequim está sempre cheio, a Igreja até agora não conseguiu firmar o seu prestígio. Quase dois anos depois de inaugurada, numa pequena loja da Barata Ribeiro, seus bancos ainda se encontram meio vazios. Talvez um monumento na porta, como fez a Solid Rock Church, ajudasse a propagar sua mensagem.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Correndo nu


A Copa do Mundo é um acontecimento mobilizador de enorme público em todos os países onde as pessoas estão ligadas no futebol. Significa grande evento promocional, capaz de mover as marcas e estabelecer recordes de vendas de produtos populares. Trata-se de oportunidade que os produtos de consumo de massa não querem perder e por isso exercitam a criatividade.

Aproveitando a onda, a Pepsi lança esta semana na Argentina nova campanha na qual afirma que vai imitar Maradona, que prometeu sair nu pelas ruas de Buenos Aires se o seu time for campeão. O refrigerante diz que também se despirá e será distribuído sem rótulo para comemorar o sucesso da seleção. Maradona sem roupa e Pepsi sem rótulo. Ambos pelados numa festa de arromba.

Os argentinos dizem que seria bem melhor se a moda fosse adotada por Eugenia Tobal, Florencia Bertotti, Veronica Varano e Sabrina Rojas, consideradas destaques entre as melhores mulheres do país.

sábado, 12 de junho de 2010

Arroz de Braga


A cidade de Braga, a mais antiga de Portugal, é famosa pela sua velha igreja, a Sé de Braga, que vem dos anos 1000, mas também pelo arroz que leva o seu nome. Fim de semana de fria temperatura, bem indicado para se fazer este prato. Vamos à cozinha.

Ingredientes

2 xícaras de caldo de carne
2 xícaras de água a ferver
150g. de linguiça
1 paio
100g de toucinho defumado picado
2 colheres de óleo
4 sobrecoxas de frango
1 cebola picada
2 xícaras de chá de arroz
½ repolho pequeno
1 tomate picado
sal a gosto

Modo de fazer

Corte a lingüiça e o paio em rodelas e reserve. Aqueça o óleo, frite nele o toucinho e junte o frango, fritando até ficar bem dourado. Acrescente o paio e a linguiça e frite mais um pouco. Junte o arroz previamente lavado e seco e deixe refogar durante alguns minutos. Despeje o caldo e a água fervente e, quando levantar fervura, acrescente o repolho cortado em pedaços grandes e o tomate. Diminua o fogo e deixe cozinhar durante aproximadamente 15 minutos, até que a superfície apareça seca. Abafe a panela embrulhando-a em jornais e deixe descansar 10 minutos antes de servir.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mar ausente


As cidades foram erguidas junto aos rios ou junto aos mares. São as águas que criam as paisagens urbanas e o tom do seu traçado, organizam os transportes e lhe dão personalidade. Onde não existem rios, longe do mar, crescem aglomerados tristes e destituídos de alma, como Las Vegas.

O Rio é um presente do mar, como o Egito é uma dádiva do Nilo, pela inspirada definição de Heródoto. Nas praias do Atlântico, de frente para a África e na rota das Índias, o Rio teve o seu destino e a sua glória por sua ligação com o mar que, junto com as montanhas, constroem a sua beleza.

Por que razão o Rio odeia o mar, que é sua origem e do qual depende como parte da sua essência? Nas imagens antigas, gravadas pelos artistas europeus que vieram atraídos pelo novo mundo, vê-se como a cidade era tão próxima do mar. Há sempre figuras de pessoas olhando para o mar, que pouco a pouco foi afastado pelos aterros sucessivos e pelas construções que se fazem nas praias: arenas para espetáculos, palcos, estádios, arquibancadas.

Hoje, caminham-se quilômetros pela orla e não se vê o mar.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Uma nova religião


O publicitário francês Frédéric Beigbeder foi demitido da Young & Rubican por falta grave, depois que publicou seu livro 99 francs (rebatizado como 14,99 €, depois da chegada do euro). Ele escreveu que a publicidade é uma nova religião pela qual nós somos manipulados e condicionados. Sobre seus colegas de profissão, ele diz que são embrutecidos, superpagos, totalmente cínicos e niilistas, que só pensam em lucro e jamais refletiram sobre o poder que detêm.

Beigbeder diz que os métodos de trabalho das agências são obsoletos e consistem em reuniões onde as boas idéias são destruídas. A maneira de fazer anúncios é a mesma dos tempos de David Ogilvy e Bill Bernbach e a liderança encontra-se cada vez mais com o cliente. As agências passaram a ser meras executantes.

As marcas deixaram de falar do produto e passaram a vender estilos de vida, impondo um universo imaginário ao qual crianças e adolescentes são vulneráveis e permeáveis.

Ele propõe que exista nas escolas uma matéria destinada a criar resistência à publicidade e ensinar que felicidade não é aquilo que se vê nos anúncios.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Sergio


Sergio foi um habitante de Ipanema nos anos dourados, quando a boemia intelectual marcava presença nos botequins e alegrava o bairro. Tivemos uma boa amizade, fomos vizinhos em Arraial do Cabo, no tempo em que a cidade era uma vila de pescadores, para onde iamos nos fins de semana, pescávamos, bebíamos e eramos felizes.

Quando ele se mudou para Campo Grande ninguém entendeu muito bem o que fora fazer em Mato Grosso, longe de tudo o que amava e do qual fazia parte. Fui visitá-lo uma vez, ele havia construido uma casa agradável, com uma característica que a distinguia das outras casas, pois todos os cômodos davam na cozinha, que era o centro de tudo. Ele era um grande cozinheiro.

A notícia da sua morte veio com a violência de um impacto. Ele havia sido vítima da bala de um assaltante, na frente de casa, quando conversava com amigos. Sergio era um homem gentil, de fala tranquila e de humor inteligente.