quarta-feira, 28 de julho de 2010

Cena no aeroporto


No restaurante do aeroporto, vôo atrasado, observo a moça que sentou-se numa das mesas do canto e pediu uma garrafa de vinho. O garçon serve-lhe a taça, ela dá sua aprovação e fica batucando na mesa com os dedos enquanto bebe em pequenos goles.

O rapaz chegou cerca de dez minutos depois, sentou-se e recusou o vinho, preferiu cerveja e ambos pediram os pratos que escolheram no cardápio. Comeram vagarosamente, conversaram pouco, trocaram de vez em quando algumas rápidas palavras.

Depois ele levantou-se e, com o celular, tirou bem de perto uma foto do rosto da moça. Em seguida pegou sua bolsa e tomou a direção da porta de embarque. Ela continuou sentada, até terminar a garrafa de vinho. Então pagou a conta e, na porta de saída do restaurante, levantou os dois braços e saiu dançando num alegre requebrado.

domingo, 25 de julho de 2010

Fortaleza



No lugar onde foi construido em 1649 um forte holandês, surgiu Fortaleza, hoje uma metrópole regional com a força e os problemas de uma grande cidade. O transito é intenso e problemático, o povo se queixa da violência e a indústria dos imóveis ocupa os espaços com seus espigões.

Mas é uma cidade rica, organizada e limpa, de feição moderna. Os bares estendem-se na orla das praias e permanecem abertos pela noite a dentro. O turismo se destaca entre as atividades econômicas.

Ao contrário do Rio, que esconde o mar do olhar de seus habitantes, Fortaleza expõe suas águas azuis.

terça-feira, 20 de julho de 2010

O destino


Quando tomou consciência de si mesmo, o homem fez as três perguntas que nunca deixaram de persegui-lo: quem sou, para onde vou, qual minha origem? Foram estas indagações sem respostas que fizeram surgir os mitos e as religiões, a ciência e a filosofia.

Ao descobrir que habita um pequeno planeta de uma enorme galaxia e que se encontra só num universo infinito, o homem sofreu a angústia da existência e e se refugiou nas suas crenças e superstições.

Hesíodo, um poeta que viveu em Ascra, na Grécia, há dois mil e oitocentos anos, acreditava que a origem do homem é um mistério mas seu destino é o seu caráter. A ilustração do post é a foto da estátua do poeta.

sábado, 17 de julho de 2010

Sob a chuva


A manhã chuvosa esvazia as ruas, Copacabana perde seu ar praiano. Nos bares, as mesas de calçada protegidas de cortinas plásticas estão ocupadas por clientes vestidos com roupas de inverno. Bem diferentes daqueles outros seminus que fazem o agito do verão.

Os quatro velhinhos gays tomam chope, só um deles está diante de um copo de vinho. Olham os passantes, trocam pequenos comentários com um jeito irônico e divertido.

Na feirinha da minha rua, uma menina me dá uma receita de sopa de banana verde: cortá-la em fatias finas, fritá-las e depois misturar em caldo de carne. Na Barata Ribeiro, em frente a uma academia de ginástica, um conjunto nordestino formado de sanfona, zabumba e reco-reco, toca uma música cujo refrão repete se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. As pessoas dançam.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A indústria pornográfica


Definindo-se como erotic house, a loja fica numa esquina da Nossa Senhora de Copacabana, ironicamente situada entre uma Igreja e um supermercado. Os clientes entram lá disfarçadamente, num rápido movimento, quase um pulo. Na maioria são turistas em busca de sensações.

A pornografia acompanha o homem desde antigas eras, como testemunham as paredes de Pompeia. Há pouco, arqueólogos encontraram na Alemanha uma imagem de 7200 anos sugerindo um ato sexual. A figura masculina foi batizada de Adônis von Zschernitz.

Nos tempos modernos, transformou-se numa indústria lucrativa e multinacional, movimentando alguns bilhões de dólares, com sistemas próprios de distribuição, canais de TV e grandes lojas em redor do mundo. Com o advento da internet, calcula-se que o negócio aumentou seu faturamento mais de vinte vezes, desde 1980. Os movimentos feministas protestam, dizem que a pornografia gera violência contra as mulheres e trata-se de um jeito sórdido de lidar com a sexualidade. Mas a indústria não para de crescer.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

As utopias


Depois da Segunda Grande Guerra, o Ocidente respirou aiviado e os jovens dos anos 50 acreditaram na vitória do Bem sobre o Mal. A juventude vive de utopias. Muitos adotaram o socialismo como idéia política. Ao lado da democracia como sistema de governo, seria capaz de trazer felicidade aos povos do mundo e assim marcharia a História. A fé na bondade inata do ser humano foi cultuada, uma herança do cristianismo.

O tempo encarregou-se de enterrar todas as crenças. As cruéis ditaduras militares neste sub-continente, a permanência das guerras cada vez mais destruidoras em todo o mundo e a perversa realidade dos países comunistas finalmente revelada vieram mostrar que nada daquilo era verdadeiro.

A fé na bondade dos homens foi confrontada com os crimes impiedosos que ocorrem todos os dias, com a violência, a corrupção e a morte. Nada permaneceu de pé. As utopias eram meras utopias.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Na Lapa


Depois do almoço no Bar das Quengas, Julio pega um taxi para Botafogo e eu resolvo perambular um pouco pela Lapa. Desço vagarosamente a Rua do Rezende. Muitas lojas de antiguidades e uma de serviços funerários onde dois homens sentados em volta de uma mesa dão gargalhadas.

Tinhamos conversado, durante o almoço, sobre a decadência e a ressurreição da Lapa. Nos anos trinta, foi bairro boêmio vibrante e polarizador que o amigo, nascido na Argentina, comparou a Santelmo, na Buenos Aires da mesma época. Ressonou abandonada dos anos sessenta até os noventa, quando começou a se espreguiçar e despertar do sono da decadência. Hoje, é um lugar interessante.

Atravesso Inválidos, Gomes Freire, Lavradio. Mesmo nessas horas da tarde o comércio se movimenta. Os restaurantes estão meio vazios, esperando o fervilhar da noite. No Circo Voador, ensaia uma ruidosa banda. Em frente aos arcos, uma graciosa menina faz pose para um fotógrafo. Com o celular, aproveitei a cena e fiz a foto que ilustra o post.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Internaram Marquinhos


Já falei dele aqui. Marquinhos, que fazia ponto na esquina da Barata Ribeiro com República do Peru, onde disseminava sua ira contra automóveis e pedestres. Numa algaravia em que só os loucos conseguem se expressar, dirigia impropérios aos passantes enquanto tentava orientar o trânsito. Ou então ouvia um rádio mudo mas que emitia uma música que só ele ouvia, em cujo ritmo dançava balançando as pernas.

Era o idiota da pequena aldeia formada por aquele quarteirão de Copacabana. As crianças riem dos loucos inofensivos e o provocavam na saida do colégio para vê-lo enraivecido e depois corriam dos seus arranques.

Está desaparecido há meses. O garçon do botequim diz que foi internado, depois de uma crise em que manifestou seu protesto de maneira mais furiosa contra o trânsito caótico que não conseguia organizar e as pessoas que passavam a seu lado meio amedrontadas, fingindo indiferença.