segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Primavera


Esta sucessão de dias em que se alternam calor e um certo frio marca o início da nossa primavera. Não é tão bela e tão intensa quanto a do Hemisferio norte, que desabrocha as flores em março, mas nos dá em setembro este céu claro e atmosfera limpa.

A cidade se prepara para o verão. Este ano, considerando as amostras e as previsões, teremos de novo um calor abissínio, com a volta da epidemia de dengue, sem contar as gripes típicas da estação.

Copacabana hibernava mas já dá sinais de que começa a despertar. Daqui a pouco chegam os turistas, de pele muito alva, como pássaros brancos anunciando o verão. Terá início uma festa que só vai terminar bem depois do carnaval.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Papagaios


Eles devem morar no Morro de São João, aqui em frente, lá no alto, depois da Ladeira do Leme. É um pequeno bando, de oito a dez, que de manhã bem cedo sobrevoa a muralha dos edifícios de Copacabana e segue em desorganizada esquadrilha no rumo da praia.

São quase inteiramente verdes, com tons de amarelo e azul na cabeça e passam fazendo barulho com seu canto estridente em seu típico vôo desajeitado.

Sempre me perguntei o que um bando de papagaios vai fazer na direção do mar. Mas sei que eles vivem cerca de 40 anos e costumam unir-se em casais que duram por toda a vida. Às vezes voam tão juntos que, de longe, dão a impressão de serem apenas um.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Um gentleman


Lembrança de Eduardo, de cuja morte soubemos, eu e outros amigos. Procuramos muito descobrir por onde andava, depois que sumiu, até que nos chegou a notícia. Uma morte discreta, íntima, como ele sempre viveu.

Já falei aqui sobre Eduardo, o homem mais elegante que conheci. E de suas oito namoradas, que manteve durante muitos anos sem que uma soubesse da outra. Quando o segredo acabou por ser revelado entre elas, mesmo assim continuaram a lhe fazer companhia nos fins de semana, ora uma, ora outra. Dava-lhe algum trabalho administrar esse amor com tantas faces, pois às sextas-feiras, no fim da tarde, começavam os telefonemas.

Cavalheiro perfeito de um tempo passado, figura romântica de charme envolvente, as mulheres não o conseguiam odiar.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O poder do Estado


O governo anuncia aumento de impostos sobre o fumo e a bebida com o fim de angariar dinheiro e inibir esses hábitos.
As proibições cercam o homem civilizado. Foram-lhe cassados os direitos de fumar, beber ou comer de acordo com seus desejos.

As regras limitam sua existência. Educar significa repressão e lhe são exigidos diferentes comportamentos de acordo com o ambiente em que se encontra.

O Estado existe para a prática da dominação. Tem o poder de obrigar as pessoas a fazer ou deixar de fazer alguma coisa mesmo contra a própria vontade. Foi criado pela força e não por um contrato social, como queria Rousseau.

domingo, 4 de setembro de 2011

Encontro


De roupas sujas, barba de uns três dias e olhos arregalados, Marquinhos passou por mim na Barata Ribeiro. Parava de vez em quando, abria as pernas, levantava os braços e dava um grito. Bem diferente da semana passada, quando o vi de roupa limpa, sóbrio e compenetrado.

Ele desaparece de vez em quando, provavelmente internado. Quando volta, aparenta certa calma até que volta a xingar os passantes naquela algaravia que constitui sua linguagem. E torna a dirigir o trânsito e esculhambar os motoristas.

Em seus altos e baixos, na angústia expressa em sua face e nos seus gestos, Marquinhos parece nos ensinar como a vida não tem lógica e como é confusa a cidade em que vivemos.