domingo, 15 de janeiro de 2012

Condenados


Em Lagos, fiquei hospedado no Eko Hotel, na Ilha Vitória. É um hotel de padrão americano, com a diferença de que só tinha água de madrugada. Puxei o pesado colchão da cama king size, coloquei-o na porta do banheiro e abri o chuveiro e a torneira da pia. Assim, por volta das duas da madrugada, podia acordar ouvindo o barulho da chegada da água lançada pelos canos enferrujados. E tomar um banho.

No sábado, o jornal anunciou a execução de quatro condenados à morte por roubo. A sentença por fuzilamento foi cumprida numa praia do outro lado da ilha. Alguns hóspedes foram assistir. Preferi ficar sozinho no bar. Não conseguia – não consegui até hoje - tirar da cabeça o olhar dos condenados quando passaram pela porta do hotel em cima de um caminhão, algemados, em direção àquela praia.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Genocídio


O ano se inicia com um verão chuvoso. O que me lembra a observação de Eric Hobsbawm, que diz ter sido o Século XVIII um período luminoso, seguido pelo úmido e sombrio Século XIX. Parece que em cada século existe um câmbio, pois o Século XX foi solar e portanto neste em que vivemos certamente haveria o predomínio das águas.

Embora luminoso, foi no século passado que ocorreram os sucessivos massacres da primeira e segunda guerras mundiais, os abatedouros humanos. Nele foi cunhada a palavra genocídio.

Esta palavra sinistra serviu para designar o assassinato em massa de armênios, judeus e ciganos. E deu nome aos genocídios praticados na Sérvia, no Tibet, no Camboja, em Ruanda e na Bósnia, sem esquecer a destruição de Guernica e o massacre dos curdos no Iraque.

Foi o século que assistiu à falência da humanidade.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Medianeras


Medianeras, paredes cegas dos edifícios construidos no cáos urbano, são a marca da arquitetura criada pela especulação imobiliária. Um amontoado de prédios desiguais sem qualquer respeito à estética que reflete também a ética dos lançamentos imobiliários. Em sua propaganda, eles procuram vender enfatizando o meio ambiente, o conforto e a paisagem, exatamente o que destroem.

O filme do argentino Gustavo Taretto, que nada perderia se editado com alguns minutos a menos, reflete esta Buenos Aires sombria mas seu tema é o da solidão. Um cerco emocional depressivo que o isolamento da internet só faz aumentar com a sua ilusão virtual.

Taretto escreveu o argumento e dirigiu o filme. Revela-se um diretor de grandes possibilidades que muito ainda nos tem a dizer. Sua obra, com poucos títulos até agora, enquadra-se na moldura do novo cinema argentino, feito com bom gosto, sensibilidade e com respeito à inteligência do espectador.