sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Uma sombra



Entre a folhagem e a galharia
seca desta terra, onde memória
e tempo se confundem, tua vida
se mascara e se encerra nos limites
de sua última fronteira.

No clarão do sol à tua frente,
na imensidão desolada
de tanto espaço visto e assinalado,
com todos os sinais da encruzilhada
que procuraste entender e nada mais.

É grande esta paisagem de números,
a sua multidão de flagelados
na derradeira sombra dessas árvores,
na fonte que aos poucos transformou-se
no suor de homens e animais.

Permanecem ainda os sinais de vida
naquelas cercanias do lugar
onde se estende um corpo
e uma mão acenou na direção
das almas condenadas.

Mas é só réstia de vida,
porque a vida é mais do que deitar,
aceitar o sonho e avistar
a chegada da sombra a um lugar.
Vida é mais do que lutar.

É mais que revolver o tempo
ou a imagem das plantas,
insetos perseguindo gotas d'água
nos meses carregados de lembrança.
É mais do que o gesto ou emoção.

É acidente interrompendo
o fluxo das forças, energia que dorme
no íntimo das pedras, na nuvens
carregadas de eletricidade,
pelos mares e florestas densas.

É o fundo do conflito, porque paz
não há de residir nos seres vivos.
É o exato momento em que a vida
se completa e nela própria
se confunde o ato de existir.

Pois ela se transmite como germe,
vírus de doença que se cura
quando o ciclo se fecha e se completa,
o contágio se funde, antecipando vida
para seguir mais uma vez a mesma trilha.




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