domingo, 1 de janeiro de 2017

Saci



Na Cavalaria me designaram o cavalo 89. Não tinha nome, igual a todos os outros que eram conhecidos assim, por números. Dóceis, aprenderam a andar em fila, era difícil fazê-los se locomover fora dos alinhamentos organizados por um, por dois, por três ou por quatro, a depender da ordem que recebíamos gritada pelos oficiais.

Era um cavalo estúpido sem nome ou personalidade, como todos os outros. Acostumados à disciplina e às esporas, à violência dos cavaleiros que lhes impunham suas vontades. Obedeciam e seguiam aquele que estivesse imediatamente a sua frente. Eram animais escravizados e confinados em baias ou na ordem dos pelotões.

Havia apenas um que não se deixava dominar. E tinha um nome – Saci. Qualquer um de nós que recebesse a ordem de montá-lo sabia que era um castigo. Sofreríamos uma queda – às vezes violenta - que purgaria alguma falta cometida ou a simples antipatia do capitão. Era um cavalo orgulhoso, altivo, voluntarioso, nunca disciplinado. Todos sabíamos que Saci era um modelo, não para os outros cavalos, mas para nós mesmos. Na sua rebeldia ele nos mostrava que era possível desafiar os códigos e que isto sim era um gesto de liberdade.


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