terça-feira, 28 de março de 2017

Os mortos



Convivemos com nossos mortos. Lembrá-los é uma maneira de mantê-los vivos na nossa vida. A memória deles nos ajuda a evitar a despedida que sabemos eterna. Enquanto envelhecemos aumenta a quantidade dos amigos e dos mais próximos, amantes e conhecidos que partiram antes de nós. Teu pai morreu, teu avô também, em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte, nos lembra Drummond em seu poema de passagem de ano.

A dor da lembrança e dos instantes perdidos estará sempre conosco enquanto vamos a ficar cada vez mais sozinhos. A solidão da vida presente na lembrança dos nossos mortos. Eles vão nos acompanhar para sempre. De repente um rosto, uma gesto, uma palavra vai nos trazer a imagem de alguém que um dia nos acompanhou num breve espaço da nossa existência.

Aprendemos a lidar com a morte pela dificuldade de entender o amor e seu desejo de ser eterno enquanto sabemos pouco, muito pouco sobre a vida. Nada esperamos de paragens desconhecidas, de seus traços e da ausência que transporta consigo apenas a dor e seus contornos indefinidos.

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