quinta-feira, 6 de abril de 2017

Anna



Sua alegria deixava no entanto transparecer a tristeza que seus gestos largos, o riso aberto e a forma franca de falar não conseguiam esconder. Talvez nesses momentos ela se achasse mesmo feliz, pois assim representava, incapaz de uma palavra que pudesse desmentir aquela euforia diante dos acontecimentos  da vida.

Assim ela era. Ou como os outros a viam. É mesmo difícil perceber quando há uma sombra no fundo do olhar enquanto a boca e o riso procuram acompanhar gestos largos mas aflitos. Sua voz era sempre alta, às vezes parecia expressar timidez, em outras transmitia o ligeiro tremor que perpassa as almas em desespero.

A maior lembrança da sua presença não me vem da felicidade em que todos acreditavam mas sim da melancolia, da desesperança que seus olhos transmitiam discretamente, sufocando o riso. Num dia muito claro, de muito sol sobre as praias do Rio de Janeiro, quando ela se matou, todos os que a conheciam se disseram chocados, surpreendidos pelo inesperado. Mas seu olhar sempre anunciara aquilo.

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