quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O primo tranquilo


Silencioso e calmo, um disfarçado sorriso nos lábios e o olhar tímido porem sincero, era meu primo e poucos anos depois seria médico. Enquanto nós, os outros, dedicávamos o tempo na noite e dela nos embriagávamos, ele permanecia fechado no quarto da pensão de Recife e estudava. Ria seu riso tímido quando ouvia as histórias da nossa boemia irresponsável. E se recusava a participar da vida que vivíamos.

A cidade era tranquila, naquele tempo. O Capibaribe percorria seu caminho até o mar e dividia em duas a paisagem que achávamos a mais bela do mundo. Nas suas margens, pela madrugada silenciosa, passeávamos nossa inquietação e dizíamos poemas que traduziam os segredos da noite em que mergulhávamos.


Quando terminou o curso mudou-se para sua cidade no interior, foi um bom médico, silencioso e sábio. Tive dele poucas notícias e nunca consegui entender a angústia que o levou ao suicídio. Em sua forma calma de viver, escondeu o conflito interior que acabou por mata-lo. Há um mistério nos suicidas que os sobreviventes nunca haverão de compreender.

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