sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Natal


O frio inverno do Norte emoldura o tempo em que o Natal se mistura aos antigos fogos do solstício do inverno europeu. As luzes já se acenderam no Porto e as multidões na rua mobilizam as avenidas largas e as estreitas ruas medievais. Sente-se no ar o desejo de que os dias tragam consigo sinais de esperança no lugar das sombras.

Em todo o mundo, é o tempo dos pensamentos abrigados em emoções tardias, de algo que se finda para o que nascerá. Misturam-se velhas crenças, antigas festas pagãs e a esperança nos milagres. As tradições presentes nos contornos de religiões em luta no aberto e confuso campo dos desejos insaciáveis. E no estridente som do gueto dos miseráveis.

Os tempos permanecem no íntimo escuro dos homens porque são como em todas as eras. As cidades destruídas, as paisagens demolidas e o cinza-chumbo das nuvens são os mesmos a acompanhar o eterno nascer dos anos e o lamento por crianças mortas.





segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Um rio


Em plena luz do dia
entrevê-se o rio que deságua
lixo sobre as almas.

Antecipa a gênese do nada
em palavras guturais
de homem ou animal.

Retira suas roupas,
mistura-se às multidões
transformando ódios em desejos.

Desejos humanos
e de bichos: comer, amar e procriar
como procriam conchas, caracóis.

Nesta ausência de ruídos,
descobres em ti mesmo
a infinita dor de estar vivendo.